sábado, 13 de dezembro de 2008

Poemas de Natal 3 - David Mourão Ferreira

Litania para a noite de Natal - David Mourão-Ferreira



Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
num sótão num porão numa cave inundada
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
dentro de um foguetão reduzido a sucata
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
numa casa de Hanói ontem bombardeada

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
num presépio de lama e de sangue e de cisco
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
para ter amanhã a suspeita que existe
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
tem no ano dois mil a idade de Cristo

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
vê-lo-emos depois de chicote no templo
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
e anda já um terror no látego do vento
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
para nos pedir contas do nosso tempo

2 comentários:

Rui Grilo disse...

Belo poema...
Obrigado pela partilha.

Mário disse...

Obrigado, Rui
Infelizmente, no nosso Tempo/Templo, pedem-se pouco contas, e quando são pedidas, branqueiam-se e ilibam-se os responsáveis.
Porventura por isso é que "ele nasce" todos os anos...