Nem todas as manifestações no dia 31 de Dezembro são parecidas: na Escócia é o dia do Hogmanay.
Entre as várias actividades, a principal é, mal soa a meia-noite, ser o primeiro a entrar em cada dos amigos ou vizinhos, oferecendo sal, carvão, bolachas, whisky e um bolo de frutas, estilo "bolo-inglês" (neste caso, escocês).
Os donos da casa têm, também, comida e bebidas para os que eventualmente os visitem, e este deambular dura até de madrugada. São especialmente bem-vindos os homens de cabelo escuro, e menos "bem-olhados" os louros ou ruivos.
Sempre é mais engraçado do que andar de língua da sogra e chapeuzinho triangular, a fazer chinfrim numa discoteca ao som de batucadas brasileiras...
quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
Vem aí o Ano Novo
Vamos cantar as janeiras
Vamos cantar as janeiras
Por esses quintais adentro vamos
As raparigas solteiras
Vamos cantar orvalhadas
Vamos cantar orvalhadas
Por esses quintais adentro vamos
As raparigas casadas
Vira o vento e muda a sorte
Vira o vento e muda a sorte
Por aqueles olivais perdidos
Foi-se embora o vento norte
Muita neve cai na serra
Muita neve cai na serra
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem tem saudades da terra
Quem tem a candeia acesa
Quem tem a candeia acesa
Rabanadas pao e vinho novo
Matava a fome à pobreza
Já nos cansa esta lonjura
Já nos cansa esta lonjura
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem anda à noite à ventura
José Afonso
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
a verdade escondida nos pormenores
Este é daqueles que escoa a angústia dos dias e retem tudo o resto que vale a pena ser retido...
É esta a divisa do Blogue "Algeroz", à qual deveríamos dar a devida atenção - à divisa e ao Blogue.
Um copo meio cheio ou um copo meio vazio? Nunca o teremos totalmente num sentido ou no outro. A nós compete-nos decidir. E reter o que vale a pena ser retido, ou deixar que nos invada e envolva aquilo que é secundário, acessório e supérfluo.
Obrigado, Miguel, por mais este ensinamento!
o meu primeiro poema
Neste final de ano, não resisto a colocar aqui o primeiro poema que escrevi, em 1968 - faz agora 40 anos -, para um trabalho de casa (redacção) de português sobre o tema "Inverno". O quadro que escolhi é de Fernando Pe, e intitula-se "Miséria". Permito-me discordar do pintor, porque o olhar digno da criança afasta o título de miséria - quanto muito indigência, pobreza, iniquidade.
Inverno da longa espera
pela Primavera
da chuva constante
dos céus prateados
do vento ululante
dos corpos gelados
Inverno da terra
da criança e da morte
do caos e da guerra
dos homens sem sorte
Inverno
Inverno que sempre insiste
Inverno dos longos dias
E do fogo que não existe
nas nossas lareiras vazias
Pobre criança triste
A infância não a teve
e só o boneco de neve
lhe sorri com olhar terno
Inverno
Inferno
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
Boxing Day
Hoje é dia de descansar, arrumar, ver e admirar o que nos deram, pensar naqueles que nos querem bem, fazer o balanço daqueles que não nos querem assim tanto (coitados, têm sempre uma desculpa... nós é que não...), e curtir o dia.
Bom "Boxing day". Dia em que os anfitriões preparam os pequenos almoços e os levam à cama das visitas.
E assim corre a vida - por mim, foi um dos melhores Natais. Simples, quente, carinhoso, familiar. A Família (não necessariamente a colateral biológica - mas sobretudo a dos amigos, filhos e netos) é a coisa mais importante do mundo!
Espera-me jardinagem, pintura, poesia, lareira e amor daqueles que mais amamos. Que mais se pode querer?
Portugal real
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
"mas as crianças, Senhor..."
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
mais um que sofre de desenteria verbal
O Papa condenou a homossexualidade e a transexualidade - comparando-as à destruição das florestas troipicais (?!) - porque não ter filhos põe em causa a sobrevivência da Humanidade.
E eu a pensar que, por estes dias, estaria ele ocupado em embrulhar presentes para todos os seus descendentes directos... ele e todos os cardeais, bispos, padres e afins...
Afinal, o Papa compara-se a si próprio à destruição da floresta amazónica porque, convenhamos, quem é ele mais do que os outros para os condenar por não terem filhos? (além de que a orientação sexual não se escolhe, e o celibato sim!).
Seria caso para dizer "Perdoai-lhe Senhor, porque não sabe o que diz!". Mas o pior é que sabe...
Ao menos, aquele padre de Fronteira, no Alentejo, que tinha o cognome de "Fazia-os e baptizava-os" era bastante mais merecedor do Reino dos Céus!
Poemas de Natal 14 - Fernando Pessoa (outra vez)
Chove. É dia de Natal - Fernando Pessoa
Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.
E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.
Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.
Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.
PIntura: Caillebotte - Paris, la pluie
Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.
E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.
Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.
Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.
PIntura: Caillebotte - Paris, la pluie
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
22 de dezembro - tanta coisa...
Há 150 anos nascia Puccini. O que seria de nós sem ele, sem o seu lirismo e as suas óperas? Não me atrevo a arriscar...
Há 40 anos, Caetano Veloso e Gilberto Gil eram presos por "actividades subversivas" - apenas cantavam a Liberdade. É bom que nos recordemos, porque muitos de nós somos "desse tempo".
Há vinte anos era assassinado Chico Mendes, activista da Amazónia a favos dos Sem-Terra e contra a destruição do "pulmão do mundo" pelos madeireiros. Também é bom recordá-lo.
Lula da Silva é o Presidente (re)eleito do Brasil - a Liberdade e a Democracia conquistam-se e mantêm-se, mesmo com as suas dificuldades e fragilidades, mas com a beleza e o sentimento das Óperas de Puccini.
Há 40 anos, Caetano Veloso e Gilberto Gil eram presos por "actividades subversivas" - apenas cantavam a Liberdade. É bom que nos recordemos, porque muitos de nós somos "desse tempo".
Há vinte anos era assassinado Chico Mendes, activista da Amazónia a favos dos Sem-Terra e contra a destruição do "pulmão do mundo" pelos madeireiros. Também é bom recordá-lo.
Lula da Silva é o Presidente (re)eleito do Brasil - a Liberdade e a Democracia conquistam-se e mantêm-se, mesmo com as suas dificuldades e fragilidades, mas com a beleza e o sentimento das Óperas de Puccini.
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Poemas de Natal 13 - Vitorino Nemésio
Natal chique - Vitorino Nemésio
Percorro o dia, que esmorece
Nas ruas cheias de rumor;
Minha alma vã desaparece
Na muita pressa e pouco amor.
Hoje é Natal. Comprei um anjo,
Dos que anunciam no jornal;
Mas houve um etéreo desarranjo
E o efeito em casa saiu mal.
Valeu-me um príncipe esfarrapado
A quem dão coroas no meio disto,
Um moço doente, desanimado…
Só esse pobre me pareceu Cristo.
Percorro o dia, que esmorece
Nas ruas cheias de rumor;
Minha alma vã desaparece
Na muita pressa e pouco amor.
Hoje é Natal. Comprei um anjo,
Dos que anunciam no jornal;
Mas houve um etéreo desarranjo
E o efeito em casa saiu mal.
Valeu-me um príncipe esfarrapado
A quem dão coroas no meio disto,
Um moço doente, desanimado…
Só esse pobre me pareceu Cristo.
domingo, 21 de dezembro de 2008
começou o Inverno
Hoje começou o Inverno - mas, para contrariar o "desagradável" da Estação (eu pessoalmente não desgosto de certos tempos invernosos), há a consolação de os dias aumentarem um minuto de manhã e um minuto à tarde, até vencerem a noite a 21 de Março.
Poemas de Natal 12 - Camilo Pessanha
Rosas de Inverno - Camilo Pessanha
Corolas, que floristes
Ao sol do inverno, avaro,
Tão glácido e tão claro
Por estas manhãs tristes.
Gloriosa floração,
Surdida, por engano,
No agonizar do ano,
Tão fora da estação!
Sorrindo-vos amigas,
Nos ásperos caminhos,
Aos olhos dos velhinhos,
Às almas das mendigas!
Desse Natal de inválidos
Transmito-vos a bênção,
Com que vos recompensam
Os seus sorrisos pálidos.
Corolas, que floristes
Ao sol do inverno, avaro,
Tão glácido e tão claro
Por estas manhãs tristes.
Gloriosa floração,
Surdida, por engano,
No agonizar do ano,
Tão fora da estação!
Sorrindo-vos amigas,
Nos ásperos caminhos,
Aos olhos dos velhinhos,
Às almas das mendigas!
Desse Natal de inválidos
Transmito-vos a bênção,
Com que vos recompensam
Os seus sorrisos pálidos.
sábado, 20 de dezembro de 2008
Eanito, já saíste de lá há vinte e dois anitos. Felizmente!
Eanes admite dissolução do Parlamento
Ramalho Eanes provocou um terramoto político ao admitir que existem condições políticas para o presidente da Repúblicar proceder à dissolução da Assembleia da República e convocar eleições legislativas antecipadas.
JN on-line
Mas esta gente está doida? Não foi este Parlamento que aprovou, por UNANIMIDADE, o Estatuto dos Açores? Não foi este Parlamento que voltou a votar, por maioria qualificada, esse Estatuto? Não é normal (e muito saudável!) que os órgãos de soberania tenham, de quando em quando, diferenças de opinião? Para que serve o regime semi-presidencialista? Para que servem a Constituição e os processos constitucionais?
Pessoalmente, continuo a achar que Cavaco tem razão, mas a democracia é assim. O senhor General ainda está no tempo do Conselho da Revolução e do PRD. A Madre de Deus que o guarde!
Quanto ao PSD e ao discurso de Paulo Rangel, só algumas palavras simples: cobardia, cinismo, vergonha. Para serem coerentes votassem contra.
Quanto ao terramoto político não dei por nada: o dia está primaveril, a luz maravilhosa, e as pessoas borrifando-se cada vez mais para os partidos.
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Poemas de Natal 11 - António Feijó
Noite de Natal - António Feijó
A um pequenito, vendedor de jornais
Bairro elegante, – e que miséria!
Roto e faminto, à luz sidéria,
O pequenito adormeceu…
Morto de frio e de cansaço,
As mãos no seio, erguido o braço
Sobre os jornais, que não vendeu.
A noite é fria; a geada cresta;
Em cada lar, sinais de festa!
E o pobrezinho não tem lar…
Todas as portas já cerradas!
Ó almas puras, bem formadas,
Vede as estrelas a chorar!
Morto de frio e de cansaço,
As mãos no seio, erguido o braço
Sobre os jornais, que não vendeu,
Em plena rua, que miséria!
Roto e faminto, à luz sidéria,
O pequenito adormeceu…
Em torno dele – ó dor sagrada!
Ao ver um círculo sem geada
Na sua morna exalação,
Pensei se o frio descaroável
Do pequenino miserável
Teria mágoa e compaixão…
Sonha talvez, pobre inocente!
Ao frio, à neve, ao luar mordente,
Com o presépio de Belém…
Do céu azul, às horas mortas,
Nossa Senhora abriu-lhe as portas
E aos orfãozinhos sem ninguém…
E todo o céu se lhe apresenta
Numa grande Árvore que ostenta
Coisas dum vívido esplendor,
Onde Jesus, o Deus Menino,
Ao som dum cântico divino,
Colhe as estrelas do Senhor…
E o pequenito extasiado,
Naquele sonho iluminado
De tantas coisas imortais,
– No céu azul, pobre criança!
Pensa talvez, cheio de esp’rança,
Vender melhor os seus jornais…
A um pequenito, vendedor de jornais
Bairro elegante, – e que miséria!
Roto e faminto, à luz sidéria,
O pequenito adormeceu…
Morto de frio e de cansaço,
As mãos no seio, erguido o braço
Sobre os jornais, que não vendeu.
A noite é fria; a geada cresta;
Em cada lar, sinais de festa!
E o pobrezinho não tem lar…
Todas as portas já cerradas!
Ó almas puras, bem formadas,
Vede as estrelas a chorar!
Morto de frio e de cansaço,
As mãos no seio, erguido o braço
Sobre os jornais, que não vendeu,
Em plena rua, que miséria!
Roto e faminto, à luz sidéria,
O pequenito adormeceu…
Em torno dele – ó dor sagrada!
Ao ver um círculo sem geada
Na sua morna exalação,
Pensei se o frio descaroável
Do pequenino miserável
Teria mágoa e compaixão…
Sonha talvez, pobre inocente!
Ao frio, à neve, ao luar mordente,
Com o presépio de Belém…
Do céu azul, às horas mortas,
Nossa Senhora abriu-lhe as portas
E aos orfãozinhos sem ninguém…
E todo o céu se lhe apresenta
Numa grande Árvore que ostenta
Coisas dum vívido esplendor,
Onde Jesus, o Deus Menino,
Ao som dum cântico divino,
Colhe as estrelas do Senhor…
E o pequenito extasiado,
Naquele sonho iluminado
De tantas coisas imortais,
– No céu azul, pobre criança!
Pensa talvez, cheio de esp’rança,
Vender melhor os seus jornais…
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
pessoa
Já que falamos de Pessoa e, nos comentários à Entrada anterior, de non-sense, vale a pena recordar um poema seu, praticamente desconhecido... et pour cause:
António de Oliveira Salazar
Três nomes em sequência regular.
António é António
Oliveira é uma árvore
Salazar é só um apelido
Até aí está tudo bem.
O que não faz sentido
É o sentido que isso tudo tem.
António de Oliveira Salazar
Três nomes em sequência regular.
António é António
Oliveira é uma árvore
Salazar é só um apelido
Até aí está tudo bem.
O que não faz sentido
É o sentido que isso tudo tem.
Poemas de Natal 10 - Fernando Pessoa
Natal - Fernando Pessoa
Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.
Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!
Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.
Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Poemas de Natal 9 - Mário de Sá-Carneiro
A noite de Natal - Mário de Sá-Carneiro
Em a noite de Natal
Alegram-se os pequenitos;
Pois sabem que o bom Jesus
Costuma dar-lhes bonitos.
Vão se deitar os lindinhos
Mas nem dormem de contentes
E somente às dez horas
Adormecem inocentes.
Perguntam logo à criada
Quando acorde de manhã
Se Jesus lhes não deu nada.
– Deu-lhes sim, muitos bonitos.
– Queremo-nos já levantar
Respondem os pequenitos.
Em a noite de Natal
Alegram-se os pequenitos;
Pois sabem que o bom Jesus
Costuma dar-lhes bonitos.
Vão se deitar os lindinhos
Mas nem dormem de contentes
E somente às dez horas
Adormecem inocentes.
Perguntam logo à criada
Quando acorde de manhã
Se Jesus lhes não deu nada.
– Deu-lhes sim, muitos bonitos.
– Queremo-nos já levantar
Respondem os pequenitos.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
ai Obama...
Obama nomeia Ken Salazar como secretario do Interior
Yes, we Ken? desde que não seja, yes, we Salazar...
Poemas de Natal 8 - Maria do Rosário Pedreira
Natal (à avó) - Maria do Rosário Pedreira
ficou vazio o teu lugar à mesa. Alguém veio dizer-nos
que não regressarias, que ninguém regressa de tão longe.
E, desde então, as nossas feridas tem a espessura
do teu silêncio, as visitas são desejadas apenas
a outras mesas. Sob a tua cadeira, o tapete
continha engelhado, com a tua ida.
provavelmente ficará assim para sempre.
no outro Natal, quando a casa se encheu por causa
das crianças e um dos nós ocupou a cabeceira,
não cheguei a saber
se era para tornar a festa menos dolorosa,
se era para voltar a sentir o quente do teu colo.
ficou vazio o teu lugar à mesa. Alguém veio dizer-nos
que não regressarias, que ninguém regressa de tão longe.
E, desde então, as nossas feridas tem a espessura
do teu silêncio, as visitas são desejadas apenas
a outras mesas. Sob a tua cadeira, o tapete
continha engelhado, com a tua ida.
provavelmente ficará assim para sempre.
no outro Natal, quando a casa se encheu por causa
das crianças e um dos nós ocupou a cabeceira,
não cheguei a saber
se era para tornar a festa menos dolorosa,
se era para voltar a sentir o quente do teu colo.
Poemas de Natal 7 - Pedro Tamen
Natal - Pedro Tamen
Não digo do Natal – digo da nata
do tempo que se coalha com o frio
e nos fica branquíssima e exacta
nas mãos que não sabem de que cio
nasceu esta semente; mas que invade
esses tempos relíquidos e pardos
e faz assim que o coração se agrade
de terrenos de pedras e de cardos
por dezembros cobertos. Só então
é que descobre dias de brancura
esta nova pupila, outra visão,
e as cores da terra são feroz loucura
moídas numa só, e feitas pão
com que a vida resiste, e anda, e dura.
Não digo do Natal – digo da nata
do tempo que se coalha com o frio
e nos fica branquíssima e exacta
nas mãos que não sabem de que cio
nasceu esta semente; mas que invade
esses tempos relíquidos e pardos
e faz assim que o coração se agrade
de terrenos de pedras e de cardos
por dezembros cobertos. Só então
é que descobre dias de brancura
esta nova pupila, outra visão,
e as cores da terra são feroz loucura
moídas numa só, e feitas pão
com que a vida resiste, e anda, e dura.
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
terrorismo - a força é a fraqueza
Mais uma vez os terroristas atacam, desta vez no Printemps, em Paris.
A sua força é a imprevisibilidade, e o facto de poder acontecer em qualquer lado. Mas essa é também a sua maior fraqueza, porque sendo alvos tão aleatórios leva a que as pessoas continuem a fazer a sua vida normal.
Se atacassem só as redes de metro, possivelmente muita gente deixaria de andar de metro. Ao quererem ser "tudo" acabam por não ser "nada".
Vida normal = melhor combate ao terrorismo.
A sua força é a imprevisibilidade, e o facto de poder acontecer em qualquer lado. Mas essa é também a sua maior fraqueza, porque sendo alvos tão aleatórios leva a que as pessoas continuem a fazer a sua vida normal.
Se atacassem só as redes de metro, possivelmente muita gente deixaria de andar de metro. Ao quererem ser "tudo" acabam por não ser "nada".
Vida normal = melhor combate ao terrorismo.
Poemas de Natal 6 - Bocage
Natal - Bocage
Se considero o triste abatimento
Em que me faz jazer minha desgraça,
A desesperação me despedaça,
No mesmo instante, o frágil sofrimento.
Mas súbito me diz o pensamento,
Para aplacar-me a dor que me traspassa,
Que Este que trouxe ao mundo a Lei da Graça,
Teve num vil presepe o nascimento.
Vejo na palha o Redentor chorando,
Ao lado a Mãe, prostrados os pastores,
A milagrosa estrela os reis guiando.
Vejo-O morrer depois, ó pecadores,
Por nós, e fecho os olhos, adorando
Os castigos do Céu como favores.
Se considero o triste abatimento
Em que me faz jazer minha desgraça,
A desesperação me despedaça,
No mesmo instante, o frágil sofrimento.
Mas súbito me diz o pensamento,
Para aplacar-me a dor que me traspassa,
Que Este que trouxe ao mundo a Lei da Graça,
Teve num vil presepe o nascimento.
Vejo na palha o Redentor chorando,
Ao lado a Mãe, prostrados os pastores,
A milagrosa estrela os reis guiando.
Vejo-O morrer depois, ó pecadores,
Por nós, e fecho os olhos, adorando
Os castigos do Céu como favores.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Poemas de Natal 5 - Miguel Torga
domingo, 14 de dezembro de 2008
Poemas de Natal 4 - Manuel Alegre
Natal - Manuel Alegre
Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.
Era gente a correr pela música acima.
Uma onda uma festa. Palavras a saltar.
Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima.
Guitarras guitarras. Ou talvez mar.
E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.
Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia.
No teu ritmo nos teus ritos.
No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia).
Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos.
E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu dia.
No teu sol acontecia.
Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia).
Todo o tempo num só tempo: andamento
de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia.
Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva
acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de água turva
na cidade agitada pelo vento.
Natal Natal (diziam). E acontecia.
Como se fosse na palavra a rosa brava
acontecia. E era Dezembro que floria.
Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava.
E era na lava a rosa e a palavra.
Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.
Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.
Era gente a correr pela música acima.
Uma onda uma festa. Palavras a saltar.
Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima.
Guitarras guitarras. Ou talvez mar.
E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.
Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia.
No teu ritmo nos teus ritos.
No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia).
Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos.
E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu dia.
No teu sol acontecia.
Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia).
Todo o tempo num só tempo: andamento
de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia.
Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva
acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de água turva
na cidade agitada pelo vento.
Natal Natal (diziam). E acontecia.
Como se fosse na palavra a rosa brava
acontecia. E era Dezembro que floria.
Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava.
E era na lava a rosa e a palavra.
Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.
sábado, 13 de dezembro de 2008
Poemas de Natal 3 - David Mourão Ferreira
Litania para a noite de Natal - David Mourão-Ferreira
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
num sótão num porão numa cave inundada
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
dentro de um foguetão reduzido a sucata
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
numa casa de Hanói ontem bombardeada
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
num presépio de lama e de sangue e de cisco
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
para ter amanhã a suspeita que existe
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
tem no ano dois mil a idade de Cristo
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
vê-lo-emos depois de chicote no templo
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
e anda já um terror no látego do vento
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
para nos pedir contas do nosso tempo
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
num sótão num porão numa cave inundada
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
dentro de um foguetão reduzido a sucata
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
numa casa de Hanói ontem bombardeada
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
num presépio de lama e de sangue e de cisco
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
para ter amanhã a suspeita que existe
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
tem no ano dois mil a idade de Cristo
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
vê-lo-emos depois de chicote no templo
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
e anda já um terror no látego do vento
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
para nos pedir contas do nosso tempo
Recado do mano mais velho
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Poemas de Natal 2 - António Gedeão
Dia de Natal - António Gedeão
Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.
De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.
Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.
Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.
A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprado.
Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.
Ah!!!!!!!!!!
Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.
Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.
Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.
Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.
Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.
De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.
Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.
Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.
A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprado.
Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.
Ah!!!!!!!!!!
Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.
Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.
Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.
Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Poemas de Natal 1 - Vinícius de Moraes
De hoje até ao Natal, publicarei, diariamente, um poema dedicado a esta quadra.
Poema de Natal - Vinicius de Moraes
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Poema de Natal - Vinicius de Moraes
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
60 anos da Declaração dos Direitos Humanos
Artigo 1: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.
Esta é a versão mais antiga dos Direitos Humanos - o cilindro de Ciro, elaborado na Pérsia no tempo deste Rei.
Em 10 de Dezembro de 1948, a ONU decidiu por 40 votos a favor e 8 abstenções, aprovar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, depois subscrita por mais e mais países.
Mesmo sabendo dos atropelos constantes a estes Direitos, designadamente em países que os subscrevem e que chegam a fazer parte dos Comités de Fiscalização do seu cumprimento (como a Líbia, há uns anos), estou certo de que, sem esta Declaração, o mundo estaria muito pior do que está.
Parabéns à espécie humana, e ao redactor principal da Declaração, o jurista canadiano John Peters Humphrey.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
com saudade, 28 anos depois...
Pai, a Minha Sombra és Tu
a cadeira está vazia, um corpo ausente
não aquece a madeira que lhe dá forma
e não ouço o recado que me quiseste dar
nem a tua voz forte que grita meninos
na hora de acordar
ouço o teu abraço, no corredor em gaia
e os olhos molhados pela inusitada despedida
o sol foge
mas o crepúsculo desenha a sombra que
tenho colada aos pés
ou o espelho, coberto com a tua face
pai, digo-te
a minha sombra és tu
Jorge Reis-Sá, in "A Palavra no Cimo das Águas"
Escultura: Gustav Viggeland
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
camarate
Há 28 anos morriam Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa, Snu Abecasis e António Patrício de Gouveia, entre outros. Apenas três comentários:
Relativamente a Sá Carneiro, devo dizer que me impressionou a sua figura, especialmente antes do 25 de Abril e no pós-imediato, mas que, ao contrário do que por vezes se quer fazer crer, não foi ele quem liderou a rejeição do modelo PREC+PCP+Conselho da Revolução. Foi Salgado Zenha, Mário Soares e, essencialmente, o PS.
Como primeiro-ministro, achei-o fraco - os seus governos foram pouco mais que medíocres, e a gestão do PPD mais do que polémica. Deixou o partido em farrapos (pelo meio ainda houve a lideração esquerdista radical de Emídio Guerreiro). E considero que a sua escolha para candidato presidencial - o General Soares Carneiro -, foi desastrosa, devendo ter trido a coragem de se propôr, ele próprio - aí, sim, teria sido a rotura com a subserviência perante os militares, que ele apregoava ter de ser feita.
Endeusado, como acontece a todos os que morrem em condições misteriosas e trágicas, pouco tem sido analisado do seu percurso e do seu pensamento ideológico, bem como das atitudes e medidas que tomou enquanto governante. É pena. Admiro-o, também, pela coragem cívica, designadamente no seu relacionamento com Snu, peloq ue teve de passar, e pelo que teve de ouvir, nomeadamente de figuras do PS como Maria Barroso.
O segundo comentário é sobre Camarate. Já foi proposta a IX Comissão de Inquérito. Mas o que me faz confusão é que seja a AR a determinar se foi acidente ou atentado, e que as votações num e outro sentido tenham sempre (fora uma vez) seguido a maioria de direita (atentado) ou esquerda (acidente) do Parlamento.
Não é às autoridades técnicas e policiais que compete decidir? O que é que a política tem a ver com isso? E a convicção de que é uma coisa ou outra é política? Ou é factual? Vem aí, porventura a IX Comissão. As próximas eleições "decidirão" se foi atentado ou acidente.
Mais valia reflectir serenamente sobre Sá Carneiro e, porventura ainda mais, sobre Adelino Amaro da Costa, um homem corajoso e de pensamento forte, um excelente tribuno (sou desse tempo!) e que tem passado em segundo lugar neste "filme", quando, a haver atentado, seria provavelmente ele o alvo.
Relativamente a Sá Carneiro, devo dizer que me impressionou a sua figura, especialmente antes do 25 de Abril e no pós-imediato, mas que, ao contrário do que por vezes se quer fazer crer, não foi ele quem liderou a rejeição do modelo PREC+PCP+Conselho da Revolução. Foi Salgado Zenha, Mário Soares e, essencialmente, o PS.
Como primeiro-ministro, achei-o fraco - os seus governos foram pouco mais que medíocres, e a gestão do PPD mais do que polémica. Deixou o partido em farrapos (pelo meio ainda houve a lideração esquerdista radical de Emídio Guerreiro). E considero que a sua escolha para candidato presidencial - o General Soares Carneiro -, foi desastrosa, devendo ter trido a coragem de se propôr, ele próprio - aí, sim, teria sido a rotura com a subserviência perante os militares, que ele apregoava ter de ser feita.
Endeusado, como acontece a todos os que morrem em condições misteriosas e trágicas, pouco tem sido analisado do seu percurso e do seu pensamento ideológico, bem como das atitudes e medidas que tomou enquanto governante. É pena. Admiro-o, também, pela coragem cívica, designadamente no seu relacionamento com Snu, peloq ue teve de passar, e pelo que teve de ouvir, nomeadamente de figuras do PS como Maria Barroso.
O segundo comentário é sobre Camarate. Já foi proposta a IX Comissão de Inquérito. Mas o que me faz confusão é que seja a AR a determinar se foi acidente ou atentado, e que as votações num e outro sentido tenham sempre (fora uma vez) seguido a maioria de direita (atentado) ou esquerda (acidente) do Parlamento.
Não é às autoridades técnicas e policiais que compete decidir? O que é que a política tem a ver com isso? E a convicção de que é uma coisa ou outra é política? Ou é factual? Vem aí, porventura a IX Comissão. As próximas eleições "decidirão" se foi atentado ou acidente.
Mais valia reflectir serenamente sobre Sá Carneiro e, porventura ainda mais, sobre Adelino Amaro da Costa, um homem corajoso e de pensamento forte, um excelente tribuno (sou desse tempo!) e que tem passado em segundo lugar neste "filme", quando, a haver atentado, seria provavelmente ele o alvo.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
estranho mundo...
Médico amputa braço com instruções por SMS
Um médico britânico, que trabalhou como voluntário na República Democrática do Congo, conseguiu amputar o braço de um paciente seguindo as instruções enviadas por um colega através de SMS.
TSF on-line
Enquanto isso, neste mesmo "reino dos Kabilas", e ainda pior no outro Congo, arrancam-se braços, pernas e cabeça à fartazana, mas sem indicação clínica.
Estranho mundo este...
efeméride estilo "Jornal da Dois"
Há exactamente cem anos nascia, em Inglaterra, um actor chamado Edward Underdown. Podia ser underpants ou underdog. Pior. Era underdown. Quase como um untermenschen dos tempos nazis.
Se foi um grande actor? Apareceu fugazmente em alguns filmes de sucesso, sobretudo quando a camera pendia, e esteve em palco em Londres, porque conseguia esconder-se debaixo do ponto.
Assim nasceu, assim morreu. Só precisava era de um escadote para chegar ao chão... mas como acabou debaixo da terra, como toda a gente, não lhe fez diferença nenhuma.
Se foi um grande actor? Apareceu fugazmente em alguns filmes de sucesso, sobretudo quando a camera pendia, e esteve em palco em Londres, porque conseguia esconder-se debaixo do ponto.
Assim nasceu, assim morreu. Só precisava era de um escadote para chegar ao chão... mas como acabou debaixo da terra, como toda a gente, não lhe fez diferença nenhuma.
quem imaginaria que fosse possível?
Foi a 3 de Dezembro de 1967 que Christiaan Barnard, uma versão real do Dr. Kildare, que fazia mais furor entre as mulheres do que Cristiano Ronaldo ou Santana Lopes, realizou a primeira transplantação de coração humano.
O doente não resistiu às infecções causadas pela imunossupressão, mas já o segundo paciente durou um ano e meio após a intervenção, muito mais do que teria de vida.
Actualmente, com os novos fármacos, a transplantação de coração (tecnicamente fácil mas complicada pela carência de dadores e pelo pós-operatório) tem sido a solução para milhares de pessoas.
Em Portugal, foi Queiróz e Melo quem, em 1986, no Hospital de Santa Cruz, fez a primeira transplantação. A paciente chamava-se Eva Pinto e tinha uma esperança de vida de seis meses - viveu ainda mais nove anos, sempre bem disposta e vendendo almofadas em forma de coração, em lojas e mercados.
Por se chamar Eva, sempre se considerou predestinada a ser pioneira em algo, e logo que se recompôs foi agradecer pessoalmente à família do dador, vítima de um acidente de viação.
O doente não resistiu às infecções causadas pela imunossupressão, mas já o segundo paciente durou um ano e meio após a intervenção, muito mais do que teria de vida.
Actualmente, com os novos fármacos, a transplantação de coração (tecnicamente fácil mas complicada pela carência de dadores e pelo pós-operatório) tem sido a solução para milhares de pessoas.
Em Portugal, foi Queiróz e Melo quem, em 1986, no Hospital de Santa Cruz, fez a primeira transplantação. A paciente chamava-se Eva Pinto e tinha uma esperança de vida de seis meses - viveu ainda mais nove anos, sempre bem disposta e vendendo almofadas em forma de coração, em lojas e mercados.
Por se chamar Eva, sempre se considerou predestinada a ser pioneira em algo, e logo que se recompôs foi agradecer pessoalmente à família do dador, vítima de um acidente de viação.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
a solidão do príncipe
Carlos, de Inglaterra.
Príncipe de Gales. fez 60 anos a 14 de Novembro.
Acabo de ver um programa sobre ele, na SIC Notícias, e vem complementar a ideia que tinha dele, desde que, há vinte anos, em Inglaterra, segui melhor o seu percurso.
O homem-que-provavelmente-nunca-há-de-ser-Rei, porque a mãe não abdica, o pai nem quer pensar no que seria, e as gerações de hiatos curtos e a longevidade das pessoas fazem o resto, tem muito mais do que se pode pensar.
As suas ideias são fundamentadas. Tem uma perspectiva, para mim, correcta da arquitectura, da ecologia e da agricultura biológica. Bem como da sociedade multirracial.
Diana sempre fez o papel de vítima, de coitadinha, e até na sua morte trágica o destino consagrou essa sua faceta, deixando a Carlos o papel de vilão.
Homem só, com o destino traçado desde o início. Carlos é muito melhor do que pode parecer num primeiro alinhavo: esta é a minha ideia. Outra pessoa com a qual gostaria de jantar!!!
domingo, 30 de novembro de 2008
Danke schön für alles!
Depois do Quarteto Amadeus, é agora a vez de Alfred Brendel, para mim o maior pianista vivo, dar o seu último recital em Lisboa. Não consegui bilhetes, mas em compensação vou ver DVDs e ouvir o 3º andamento da "Tempestade", de Beethovem, até à exaustão. Mas deixo-vos ficar outra coisa: um dos seus poemas - escrever vai ser uma das actividades a que se vai dedicar mais, agora que terminam os seus recitais.
When Mozart was murdered
no one
not even Haydn
would have guessed
that it was Beethoven
who had committed the wicked deed
During an outing
while Mozart
exhausted from playing leapfrog
was resting in the grass
Beethoven
disguised as Salieri
approached
slinking like a tomcat
and trickled poison
into Mozart’s matchless ear
At this point
it should be mentioned
that there was
in Beethoven’s life
a closely guarded secret
Beethoven was BLACK
and Mozart had FOUND OUT
After one of Beethoven’s wondrous improvisations
Mozart
had whispered to Süssmayr
Not bad for a nigger
Now there he lay
with poison racing through his veins
Laughing grimly
the culprit sneaked away
in full possession of the key of C minor
which
from now on
would be his.
When Mozart was murdered
no one
not even Haydn
would have guessed
that it was Beethoven
who had committed the wicked deed
During an outing
while Mozart
exhausted from playing leapfrog
was resting in the grass
Beethoven
disguised as Salieri
approached
slinking like a tomcat
and trickled poison
into Mozart’s matchless ear
At this point
it should be mentioned
that there was
in Beethoven’s life
a closely guarded secret
Beethoven was BLACK
and Mozart had FOUND OUT
After one of Beethoven’s wondrous improvisations
Mozart
had whispered to Süssmayr
Not bad for a nigger
Now there he lay
with poison racing through his veins
Laughing grimly
the culprit sneaked away
in full possession of the key of C minor
which
from now on
would be his.
sábado, 29 de novembro de 2008
para Maria de Lurdes Rodrigues e Mário Nogueira
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
finalmente, Deidda em Portugal
No dia 5 de Dezembro, no CCB, teremos finalmente connosco Fernando Pessoa, na voz italiana de Mariano Deidda, ou Mariano Deidda, acompanhado por Pessoa.
Quatro CDs (inexistentes em Portugal! - incrível), absolutamente fora de série, com poemas (cerca de 60, no total) do escritor, musicados e cantados por Deidda, com acompanhamento de piano, violoncelo, guitarra e outras preciosidades.
Um privilégio. Tão sublime, que só pode levar a antecipar coisas boas. Mesmo que se saiba ser ingenuidade ou utopia, como alías o é a poesia...
Não percam!
Quatro CDs (inexistentes em Portugal! - incrível), absolutamente fora de série, com poemas (cerca de 60, no total) do escritor, musicados e cantados por Deidda, com acompanhamento de piano, violoncelo, guitarra e outras preciosidades.
Um privilégio. Tão sublime, que só pode levar a antecipar coisas boas. Mesmo que se saiba ser ingenuidade ou utopia, como alías o é a poesia...
Não percam!
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
o terror, novamente
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