terça-feira, 7 de outubro de 2008

7 de Outubro de 1949 - e alguém ainda se lembra?!?

A 7 de Outubro de 1949, menos de cinco meses depois das potências aliadas terem criado a República Federal da Alemanha, unindo os territóriosdo antigo III Reich que supervisionavam, a União Soviética proclamava o nascimento da República Democrática Alemã, correspondente à sua zona de ocupação. Wilhelm Pieck foi o primeiro presidente e Otto Grotewohl nomeado primeiro ministro. Mas a personagem mais conhecida deste "curto" país foi, sem dúvida, Walter Ulbricht.

Com cerca de metade da dimensão da RFA, a RDA (DDR em alemão) tinha também metade de Berlim, cercando totalmente o território "ocidental" da antiga capital do Reich.

Em 1953, uma tentativa de revolta em Berlim era esmagada pelos tanques do regime, auxiliados pelos soviéticos, com dezenas de mortes e milhares de prisões arbitrárias, tortura e violação dos direitos humanos mais elementares.
Em 1966, Willi Brandt desenhou a chamada Ostpolitik ou Realpolitik, que passava pelo reconhecimento, mesmo que não oficial, da RDA. A sua escolha foi polémica, alguns comparando-a a uma capitulação, outros argumentando que foi assim possível salvar o essencial. Seis anos depois a RDA era aceite como membro da ONU.

Quarenta anos depois do nascimento da RDA caíu o muro (ou, melhor, foi derrubado o muro pelo povo). Pouco tempo depois deste acto simbólico e da força que teve, já em 1990, a República Democrática Alemã deixava de existir e integrava-se na Alemanha.

Durante muito tempo considerada a "menina bonita" do Bloco Leste, onde supostamente se conseguia grande qualidade de vida apesar das limitações à liberdade, verificou-se depois (para os "cegos" que não queriam ver, os que andavam enganados ou pura e simplesmente os que não sabiam) que as carências eram mais do que muitas e o logro de uma enormidade de pasmar. Mas diz o ditado: podem enganar-se alguns durante algum tempo, mas nunca todos até a eternidade.

Na memória sobram os músculos das nadadoras olímpicas, os assassinatos no Muro e a actuação negra da Stasi, a polícia secreta. Tudo o resto se desvaneceu ou foi, afinal, melhor executado na Nova Alemanha. Até as lentes Carl Zeiss mantiveram os standards, sob o "capitalismo". Restam também as perdas dolorosas de famílias subitamente divididas e impedidas de se re-encontrarem, e a presença ignominiosa da ditadura soviética. Bem insistiam os defensores do regime que tudo era necessário - Mário Castrim, crítico de televisão, membro do PCP, escreveu um dia esta coisa formidável: que, ao contrário do que a propaganda das democracias ocidentais dizia, o Muro era necessário para impedir os alemães de Berlim-Ocidental de migrarem todos para Berlim-Leste, dado que o sonho que aí se vivia - de qualidade de vida, respeito pelo ambiente, cultura e liberdade - atraía todos os que viviam no lado oeste. Salazar não diria melhor. E aposto que a nomenklatura do partido não andava de Trabant.

Como tudo o que é mau na vida, este pesadelo acabou. E mesmo em relativa crise, é melhor seguramente viver numa república alemã democrática do que na República Democrática Alemã.

3 comentários:

Huckleberry Friend disse...

Belo texto. Recomendo, a propósito, o filme Goodbye Lenin e a sua banda sonora original, de Yann Tiersen. Beijos.

Anónimo disse...

Tiraste-me as palavras da boca ou do ecran, Huckie. Ia precisamente falar nesse filme maravilhoso que acabei de rever há dias e ao qual levei uma turma inteira do 12º ano quando ele se estreou no Porto. O impacto foi grande, dado que estávamos a estudar o tema Guerra Fria e era a primeira semana de aulas.

Tenho um amigo da RFA que casou com uma rapariga da RDA e são felizes. O contraste é enorme. Dum lado o capitalismo, a burguesia e até um certo novoriquismo dele ( é professor e era um excelente amigo aqui do Colégio Alemão),do outro a simplicidade, a submissão, o sorriso puro e a reserva dela ( excelente mãe e amiga).
A Alemanha ainda agora celebrou a reunificação, mas as cicatrizes levam tempo a sarar e o milagre económico está longe de se realizar.

Virgínia

Mário disse...

Foi um dos filmes de que mais gostei, não apenas pela ideia, mas pela sensibilidade (e humor).
Talvez por isso escolhesse a Entrada de hoje sobre o aniversário da morte de Willy Brandt.

Não vi ainda muitos filmes e livros sobre a dicotomia de dois países que, de repente, se reunificam, depois de duas gerações vividas em realidades tão contrastantes. Espermos que seja apenas o hiato histórico que melhor dá a visão objectiva dos factos.