A 7 de Outubro de 1949, menos de cinco meses depois das potências aliadas terem criado a República Federal da Alemanha, unindo os territóriosdo antigo III Reich que supervisionavam, a União Soviética proclamava o nascimento da República Democrática Alemã, correspondente à sua zona de ocupação. Wilhelm Pieck foi o primeiro presidente e Otto Grotewohl nomeado primeiro ministro. Mas a personagem mais conhecida deste "curto" país foi, sem dúvida, Walter Ulbricht.
Com cerca de metade da dimensão da RFA, a RDA (DDR em alemão) tinha também metade de Berlim, cercando totalmente o território "ocidental" da antiga capital do Reich.
Em 1953, uma tentativa de revolta em Berlim era esmagada pelos tanques do regime, auxiliados pelos soviéticos, com dezenas de mortes e milhares de prisões arbitrárias, tortura e violação dos direitos humanos mais elementares.
Em 1966, Willi Brandt desenhou a chamada Ostpolitik ou Realpolitik, que passava pelo reconhecimento, mesmo que não oficial, da RDA. A sua escolha foi polémica, alguns comparando-a a uma capitulação, outros argumentando que foi assim possível salvar o essencial. Seis anos depois a RDA era aceite como membro da ONU.
Quarenta anos depois do nascimento da RDA caíu o muro (ou, melhor, foi derrubado o muro pelo povo). Pouco tempo depois deste acto simbólico e da força que teve, já em 1990, a República Democrática Alemã deixava de existir e integrava-se na Alemanha.
Durante muito tempo considerada a "menina bonita" do Bloco Leste, onde supostamente se conseguia grande qualidade de vida apesar das limitações à liberdade, verificou-se depois (para os "cegos" que não queriam ver, os que andavam enganados ou pura e simplesmente os que não sabiam) que as carências eram mais do que muitas e o logro de uma enormidade de pasmar. Mas diz o ditado: podem enganar-se alguns durante algum tempo, mas nunca todos até a eternidade.
Na memória sobram os músculos das nadadoras olímpicas, os assassinatos no Muro e a actuação negra da Stasi, a polícia secreta. Tudo o resto se desvaneceu ou foi, afinal, melhor executado na Nova Alemanha. Até as lentes Carl Zeiss mantiveram os standards, sob o "capitalismo". Restam também as perdas dolorosas de famílias subitamente divididas e impedidas de se re-encontrarem, e a presença ignominiosa da ditadura soviética. Bem insistiam os defensores do regime que tudo era necessário - Mário Castrim, crítico de televisão, membro do PCP, escreveu um dia esta coisa formidável: que, ao contrário do que a propaganda das democracias ocidentais dizia, o Muro era necessário para impedir os alemães de Berlim-Ocidental de migrarem todos para Berlim-Leste, dado que o sonho que aí se vivia - de qualidade de vida, respeito pelo ambiente, cultura e liberdade - atraía todos os que viviam no lado oeste. Salazar não diria melhor. E aposto que a nomenklatura do partido não andava de Trabant.
Como tudo o que é mau na vida, este pesadelo acabou. E mesmo em relativa crise, é melhor seguramente viver numa república alemã democrática do que na República Democrática Alemã.
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3 comentários:
Belo texto. Recomendo, a propósito, o filme Goodbye Lenin e a sua banda sonora original, de Yann Tiersen. Beijos.
Tiraste-me as palavras da boca ou do ecran, Huckie. Ia precisamente falar nesse filme maravilhoso que acabei de rever há dias e ao qual levei uma turma inteira do 12º ano quando ele se estreou no Porto. O impacto foi grande, dado que estávamos a estudar o tema Guerra Fria e era a primeira semana de aulas.
Tenho um amigo da RFA que casou com uma rapariga da RDA e são felizes. O contraste é enorme. Dum lado o capitalismo, a burguesia e até um certo novoriquismo dele ( é professor e era um excelente amigo aqui do Colégio Alemão),do outro a simplicidade, a submissão, o sorriso puro e a reserva dela ( excelente mãe e amiga).
A Alemanha ainda agora celebrou a reunificação, mas as cicatrizes levam tempo a sarar e o milagre económico está longe de se realizar.
Virgínia
Foi um dos filmes de que mais gostei, não apenas pela ideia, mas pela sensibilidade (e humor).
Talvez por isso escolhesse a Entrada de hoje sobre o aniversário da morte de Willy Brandt.
Não vi ainda muitos filmes e livros sobre a dicotomia de dois países que, de repente, se reunificam, depois de duas gerações vividas em realidades tão contrastantes. Espermos que seja apenas o hiato histórico que melhor dá a visão objectiva dos factos.
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