quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Brel - trinta anos de saudade



"Bien sur, il y a nos défaites
Et puis la mort qui est tout au bout...
"

Jacques Brel morreu no dia 9 de Outubro de 1978.
Marcou uma geração - não apenas pelos poemas e pelas canções, mas por um percurso de vida de coerência, insatisfação, insubmissão e revolta. O belga valão que quase exclusivamente cantava em francês e que acusava os flamengos de arrogância e de discriminação, foi um ícon para muitos, pertencendo ele mesmo à geração de ouro da música francófona, herdeiro de Piaf e de Brassens, companheiro de Reggiani, Moustaki, Leo Ferré, Barbara, Mouloudji, Aznavour e tantos outros.

"Les bourgeois c'est comme les cochons
Plus ça devient vieux plus ça devient bête"


Foi cantor e actor. Depois de uma vida activa, sempre interveniente, retirou-se para as Ilhas Marquesas, quando descobriu ter um cancro. Em 1977 regressou a Paris para gravar o seu último disco, dez anos depois do anterior e voltou para o lugar onde se sentia bem, navegando nos mares do Pacífico. Voltou à cidade-luz para morrer, e foi enterrado na Ilha Hiva-oa, no Arquipélago das Marquesas.
Deixou-nos a palavra, a nostalgia, o acreditar na vida e a presença da morte. E sentimentos profundos, íntimos e solidários. E polémicos. Como a natureza dos homens. E como Brel.

"Les vieux ne meurent pas, ils s'endorment un jour et dorment trop longtemps
Ils se tiennent par la main, ils ont peur de se perdre et se perdent pourtant
Et l'autre reste là, le meilleur ou le pire, le doux ou le sévère
Cela n'importe pas, celui des deux qui reste se retrouve en enfer
Vous le verrez peut-être, vous la verrez parfois en pluie et en chagrin
Traverser le présent en s'excusant déjà de n'être pas plus loin
Et fuir devant vous une dernière fois la pendule d'argent
Qui ronronne au salon, qui dit oui qui dit non, qui leur dit : je t'attends
Qui ronronne au salon, qui dit oui qui dit non et puis qui nous attend."


Ele, contudo, não chegou a velho - ou, vendo de outra forma, permanece sempre eterno na cultura dos povos. Salut Jacques!

7 comentários:

Anónimo disse...

Bela foto e belo texto... vêm-me à memória os versos da história trágica de Fanette....e o murmúrio das ondas que a acompanha....c'est la Fanette.

Brel foi muito mais do que um cantor, foi um estado de alma para a nossa geração.

Virgínia

miguel disse...

Texto belíssimo. Brel , para mim,é mais francês que belga, um pouco como aqueles que acham que Portugal é espanha.
É também actor num filme hilariante chamado " L'émmerdeur" ou qualquer coisa do estilo. E,antes de mais, um poeta para (eu) descobrir.

Mário disse...

Virginia
Brel marcou-nos muito. Aliás, acho que nós somos predominantemente francófonos, apesar de você ter depois seguido germânicas e anglo-saxónicas. E eu também, por necessidade profissional.
Mas a essência é gaulesa, sem qualquer dúvida.
Brel deixa-me sempre um travo amargo. Docemente amargo.

Miguel
Vai a este site: http://www.paroles.net/chansons/1006.1/Jacques-Brel

e encontrarás aqui todos os poemas de Brel. Descobre-o, que vale a pena. La chanson des vieux amants é, para mim, uma beleza, porque representa uma utopia que, porventura, nunca hei-de alcançar...

Anónimo disse...

J'aime les paroles et la musique française...mais pas les français!

Sempre adorei a cultura francesa - a pintura maravilhosa impressionista, a música - Saint Saens, Debussy, Ravel et les autres e os cantores diseurs plus que chanteurs. Ainda me comovem porque é toda a minha infãncia e juventude a desfilar diante de mim, são as festas de adolescentes ao som do Et Maintenant ou Capri, c'est fini, tardes inteiras a ouvir Charles Aznavour, Edith Piaf, com a nossa Mãe, que vibrava como nós.

Agora já pouco os oiço, gosto mais do ritmo anglo-saxónico, country e alternativa, a par do clássico.

Este poema Lex Vieux faz-me arrepiar, pois associo-o aos avós - todos - do mundo.

Para lá caminho eu et, mano, j'ai aussi peur de me perdre.

Bjo

Virgínia

Mário disse...

E Adamo, Virgínia.
Que o nosso Pai, a brincar convosco, "manas mais velhas", chamava "Adamado", para grande cólera vossa.
Passe passe le temps, il n'y en a plus pour très longtemps

Sérgio disse...

Ainda bem que há quem goste de brel, 31 anos após a sua morte.
Deixo aqui o endereço do meu blog
http://cantodobrel.blogspot.com/

onde vai estar traduzida toda a obra de Brel para português, a história da sua passagem em 1974 pelo Faial, Açores, (ilha onde vivo)e notícias que recebo das Edições Brel, Bélgica.
Sergio

Mário disse...

Sérgio
Bem-vindo.
Vou visitar o seu Blogue, infelizmente mais depressa do que visitar a sua formidável Ilha - uma das que mais gosto dos Açores.
Sabe que escrevi um livro de poesia sobre a Região?
Se desejar, envie-me a sua morada para o meu mail - mario.cordeiro@netcabo.pt - e terei todo o gosto de lhe mandar um.
Abraços e continue por cá.
Mário