domingo, 19 de outubro de 2008

não consigo descortinar...

Curiosamente nasceu um dia antes de mim. Admirei-o e admiro-o. Corajoso, lutador, sem medo.

Lutou contra a ETA, e muito do que representam vitórias sobre este movimento terrorista devem-se a ele. Fez (e bem) a vida negra a Pinochet, mostrando que, lá por se ser velhinho, não se fica santo quando se doi um ditador sanguinolento e assassino.

Mas agora, o Juíz Baltazar Garzón exagerou. Ir "recuperar" a Guerra Civil de Espanha, assacar culpas a franquistas (quando sabemos que houve, dos dois lados, massacres e ignomínias), analisar os restos mortais de Llorca é, para lá de inútil, abrir uma caixa de Pandora.

As feridas da Guerra de Espanha conseguiram sarar, num prazo curto de tempo. Os espanhóis vivem em democracia e têm outras ameaças. Ir ressuscitar ódios e chagas, é não deixar os lutos em paz, sem que disso resulte qualquer benefício, Um espanhol com 18 anos, no último ano da Guerra, terá agora 90 anos.

Não consigo descortinar qualquer motivo, a não ser ânsia de protagonismo de Garzón. Espero que não. Que esteja enganado. Eu...

5 comentários:

miguel disse...

Também eu admiro, e muito, a coragem de Baltazar Gárzon.

Mas , por este andar, ainda mete, um dia, o estado português em tribunal por conta de umas patifarias feitas à corte de Filipe II. E, na pior das hipóteses, arriscamos um ataque da cavalaria espanhola, com Juan Carlos de Bourbon montado no cavalo da frente.

Huckleberry Friend disse...

Não é, seguramente, um afã de protagonismo que move Baltasar Garzón. O que tem chega-lhe para não poder dispensar o guarda-costas por um segundo (nem para si nem para a família mais directa).

Gostava de deixar dois apontamentos e uma pergunta:


1º apontamento: Pela primeira vez, os assassínios sistemáricos promovidos por Franco, ao grito de Viva la muerte, são considerados crime contra a Humanidade, num momento em que ainda vivem sobreviventes do seu terror e familiares directos, viúv@s e filh@s dos que morreram.

2º apontamento: Pela primeira vez, as vítimas de Franco são tratadas com dignidade. Atiradas para valas comuns, o seu destino contrastava, até agora, com as vítimas dos crimes cometidos pelo lado republicano, a quem forma concedidas todas as honras. Ainda recentemente, o Vaticano beatificou 500 padres mortos pelos rojos.

Pergunta: Estando correcto o princípio por trás da acção do juiz, devemos ter medo de abrir as caixas de Pandora da Guerra Civil ou, de forma menos paternalista, considerar que a democracia espanhola já tem maturidade para enfrentar os seus fantasmas, ao contrário do que sucedia em 1975 ou aquando do golpe falhado de 1981?

Mário disse...

Terminei a Entrada dizendo esperar estar enganado. E porventura, depois de ler o comentário do Huck fiquei mais esclarecido, embora também concorde com o Miguel - até quando deveremos ir, e mantenho a questão da caixa de Pandora.

Aliás, desta não se sabe se sairão coisas boas ou más... não se sabe, apenas...

Por outro lado, se Franco tratou os republicanos com a sobranceria e o desrespeito que os ditadores conferem às suas acções (por definição...) - o Vale de los Caidos é um exemplo, e a actuação da Igreja, outro -, também não esquecer que houve atrocidades de ambos os lados. E valas comuns de ambos os lados. Nada como reler "Por quem os sinos dobram", de Hemingway.

Elisete disse...

Há pouco tempo li um livro que me despertou para esta “caixa de Pandora”: “Fantasmas de Espanha – Viagens pelo presente escondido de um país” de Giles Tremlett. Muito interessante ...

Huckleberry Friend disse...

Recomendo o editorial de hoje do El País. Beijos!