Albino Luciani. Nasceu a 17 de Outubro e teria, agora, 96 anos. Se não tivesse morrido. Se não o tivessem assassinado? Dizem que Deus sabe, mas também dizem que Deus, ou alguém em nome d´Ele, se encarregou do serviço.
Trinta e três dias (número simbólico) chegaram para a revolução. O ano dos três Papas. O reinado pontifício mais curto da História. O Papa que era fã de Pinóquio, que teve como tese de doutoramento "A origem da alma", que dava consecutivos exemplos de humildade e de recusa dos favores e símbolos "exteriores de riqueza" da Igreja Católica, terminou os seus dias misteriosamente, não se sabendo ainda porque morreu.
Aquele que, para Madre Teresa de Calcutá foi um dos raros "raios de luz vindos de Deus", exclamou, ao saber-se eleito: "Que Deus vos perdoe!".
"Humanizar o papado" - foi o seu primeiro objectivo. E recusou usar a coroa e a tiara papal, porque considerou a sua missão como devendo ser um exemplo de humildade. O seu primeiro press-release, aliás, chamava-se "Humilitas".
Apesar de curto, no seu pontificado ainda conseguiu reunir uma conferência para discutir o problema da sobre-população no Terceiro Mundo, um tabu para uma Igreja que fazia (faz!) da anti-concepção um pecado, e pretendia prolongar o trabalho de João XXIII sobre o ecumenismo e o espírito liberal do Concílio Vaticano II.
Outras iniciativas foram dar aos países pobres uma percentagem do que as Igrejas dos países ricos recebessem, e receber o ditador argentino Jorge Videla para lhe lembrar a necessidade de respeito pelos direitos humanos e re-afirmar que era contra a "Guerra Suja" da ditadura sul-americana (que dirão aqueles que hoje se recusam a receber o Dalai Lama, em Portugal, e lambem as botas aos dirigentes chineses?).
Em Setembro de 1978 foi encontrado morto, sentado na cama. Autópsia? Não foi feita. Estava a escrever. O quê? Nunca se soube. Os documentos desapareceram.
Mas deixou apontamentos e escritos sobre Cristo e sobre o Rei David. Sobre Maria Teresa de Áustria e sobre Fígaro, do Barbeiro de Sevilha. Sobre Mark Twain e Charles Dickens.
Era ele ou a Igreja, no que esta tem de mais reaccionário e conservador. Não podia sobreviver. Envenenamento? Enfarte? O crime, a haver, prescreveu. Deus safou-se desta. Até quando?
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
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4 comentários:
Albino Lucciani: é, também uma das minhas referências.
Outro Papa interessante e tão diferente de João Paulo I: o actual, Bento XVI . Incrível, mas é a minha opinião.
"Outro Papa interessante e tão diferente de João Paulo I: o actual, Bento XVI . Incrível, mas é a minha opinião."
Hmmm, talvez não esteja a perceber bem o sentido desse "interessante", "diferente" e "incrível". Espero estar a perceber mal...
Um deles normal, outro, intelectual. Um deles emocional, outro, cerebral. Um deles, doutrinário, outro curioso do mundo fora da Igreja.
Não sei, mas é assim que #vejo# um e outro. Fiz-me perceber?
O Papa representa, para mim, o Chefe do Estado de um micro-estado chamado Vaticano.
Além disso, entendo que represente, para milhões, o chefe da sua Igreja, mas como não me incluo nessa Igreja, o que diz ou escreve é, para mim, certo ou errado conforme avalio o que qualquer outra pessoa diz ou escreve.
Entre os dois: estiveram demasiado pouco tempo para entender bem o que defendem, desejam, que rumos para a Igreja. João Paulo I parecia ir inovar e diminuir o hiato entre a Igreja Católica e o século em que vivemos (viveu). Bento XVI não sei - parece demasiado hermético, mas já me tem surpreendido numa ou noutra coisa.
Melhor do que Manuela Ferreira Leite, aí com certeza!
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